23 março, 2007

Solidão custa caro...


Ela vai sair de noite.
Reserva o dia para se arrumar.
Faz chapinha por R$ 30.
Faz as unhas, a preço de R$ 20.
Faz depilação com R$ 30 a R$ 60.
Compra roupa com R$ 200.
Arranja um par de sapatos a R$ 100.
Na brincadeira, contando por baixo, gasta bem mais do que um salário mínimo.
A arrumação aumenta a expectativa de conseguir um par, um laço afetivo na festa ou na balada. Aumenta também a exigência - não será qualquer um a desarrumá-la.
As amigas vão juntas para disfarçar a solidão e o desejo.
Durante o convívio, dança avulsa com a dispersão de um farol.
Busca a si mesma em cada um que circula.
Quando a gente anseia amar a gente se busca, não busca o outro.
É a identificação que gera depois a diferença.
As horas correm, o sono chega, a cota de consumação termina.
Apesar da conversa alta, do som predileto, das indiretas, nada surge.
Nem bêbada fica.
Produziu-se como nunca e passa em branco.
Os homens não reparam, em sua maioria, o investimento que uma mulher realiza em nome de uma possível paixão.
Quantas horas e ansiedade para ficar daquela forma?
É como se ela nascesse pronta.
Aliás, a mulher tem o dom de tornar natural o seu próprio esforço, de transmitir indiferença quando está ligada aos suaves movimentos do mundo com todo os poros.
Imagine a frustração de quem se preparou inteiramente para aquele momento, viveu as vésperas como uma guinada decisiva e não acontece sequer um encontro digno de ser anotado na agenda.
É desesperador.
Pense ainda que a mulher pode estar pagando uma babá para ficar com o filho, raramente se arrisca a procurar novos relacionamentos e decidiu ceder à insistência das colegas que a viam muito solitária.
Após a saída, arrepende-se de tentar, sua esperança se rareia com as dificuldades, pois é tão extenuante transformar um caso em casa.
Definir no calor da hora, com parcas palavras, uma atração que renda uma semana.
Hoje andar de mãos dadas é mais complicado do que descolar um beijo.
Não adianta subestimá-la dizendo que ela está caçando.
Está procurando, que é bem diferente.
Caçar é matar a fome, já ela quer aumentar a fome acompanhada.
Não adianta zombá-la dizendo que é carente.
A carência é uma virtude da fidelidade.
Essa mulher entendeu, infelizmente, que a solidão custa caro.

(Autor: Fabrício Carpinejar)

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