10 março, 2007

VALORES

Um dia, durante uma conversa entre engenheiros, me fizeram uma pergunta: O
que de mais importante você já fez na sua vida?

A resposta me veio à mente na hora, mas não foi a que respondi, pois as
circunstâncias não eram apropriadas. No papel de engenheiro da indústria do
espetáculo, sabia que os assistentes queriam escutar anedotas sobre meu
trabalho com as celebridades. Então, tirei lá das profundezas das minhas
recordações: O mais importante que já fiz na minha vida ocorreu em 08 de
outubro de 1990.

Comecei o dia jogando golfe com um ex-colega e amigo meu que há muito não
via. Entre uma jogada e outra, conversávamos a respeito do que acontecia na
vida de cada um. Ele me contava que sua esposa e ele acabavam de ter um
bebê. Enquanto jogávamos chegou o pai do meu amigo que, consternado, lhe diz
que seu bebê parou de respirar e que foi levado para o hospital com
urgência. No mesmo instante, meu amigo subiu no carro de seu pai e se foi.

Por um momento fiquei onde estava, sem pensar nem mover-me, mas logo tratei
de pensar no que deveria fazer:

Seguir meu amigo ao hospital? Minha presença, disse a mim mesmo, de nada
serviria pois a criança certamente está sob cuidados de médicos,
enfermeiras, e nada havia que eu pudesse fazer para mudar a situação.
Oferecer meu apoio moral? Talvez, mas tanto ele quanto sua esposa vinham de
famílias numerosas e sem dúvida estariam rodeados de amigos e familiares que
lhes ofereceriam apoio e conforto necessários, acontecesse o que
acontecesse. A única coisa que eu faria, indo até lá, era atrapalhar.
Decidi que mais tarde iria ver o meu amigo.

Quando dei a partida no meu carro, percebi que o meu amigo havia deixado o
seu carro aberto e com as chaves na ignição, estacionado junto às quadras de
tênis. Decidi, então, fechar o carro e ir até o hospital entregar-lhe as
chaves. Como imaginei, a sala de espera estava repleta de familiares que os
consolavam.

Entrei sem fazer ruído e fiquei junto à porta, pensando o que deveria fazer.
Não demorou muito e surgiu um médico que aproximou-se do casal e, em voz
baixa, comunica o falecimento do bebê. Durante os instantes que ficaram
abraçados a mim pareceu uma eternidade ... choravam, enquanto todos os
demais ficaram ao redor daquele silêncio de dor.

O médico lhes perguntou se desejariam ficar alguns instantes com a criança.
Meus amigos ficaram de pé e caminharam resignadamente até a porta. Ao ver-me
ali, aquela mãe me abraçou e começou a chorar.

Também meu amigo se refugiou em meus braços e me disse: - Muito Obrigado
por estar aqui!

Durante o resto da manhã fiquei sentado na sala de emergências do hospital,
vendo meu amigo e sua esposa segurar nos braços seu bebê, despedindo-se
dele.

Isso foi o mais importante que já fiz na minha vida.

Aquela experiência me deixou três lições:

Primeira: o mais importante que fiz na vida, ocorreu quando aparentemente
não havia absolutamente nada, nada que eu pudesse fazer. Nada daquilo que
aprendi na universidade, nem nos anos em que exercia a minha profissão, nem
todo o racional que utilizei para analisar a situação e decidir o que eu
deveria fazer, me serviu para aquela circunstância.

Segunda: estou convencido que o mais importante que já fiz na minha vida
esteve a ponto de não ocorrer, devido às coisas que aprendi na universidade,
aos conceitos do racional que aplicava na minha vida pessoal, assim como
faço na profissional. Ao aprender a pensar, quase me esqueci de Sentir.
Hoje, não tenho dúvida alguma que devia ter subido naquele carro sem vacilar
e acompanhar meu amigo ao hospital.

Terceira: aprendi que a vida pode mudar em um instante. Intelectualmente
todos nós sabemos disso, mas acreditamos que os infortúnios acontecem com os
outros. Assim fazemos nossos planos e imaginamos nosso futuro como algo tão
perfeito e real, como se não houvesse espaços para outras ocorrências. Mas
ao acordarmos de manhã, esquecemos que podemos perder o emprego, sofrer uma
doença ou cruzar com um motorista embriagado, etc., acidentes que podem
alterar este futuro em um piscar de olhos.

Desde aquele dia busquei um equilíbrio entre o trabalho e a minha vida.
Aprendi que nenhum emprego, por mais gratificante que seja, compensa perder
férias, romper um casamento ou passar um dia festivo longe da família. E
aprendi que o mais importante da vida não é ganhar dinheiro, atropelar a
carreira dos outros e nem ascender socialmente. O mais importante da vida é
ter tempo para utilizar todos os conhecimentos adquiridos no sentido de
promover o bem estar do próximo.

(Autor: Desconhecido)

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