26 março, 2008

Redação muito interessante......



Redação feita por uma aluna do curso de Letras, da UFPE Universidade
Federal de Pernambuco - (Recife), que venceu um concurso interno promovido
pelo professor titular da cadeira de Gramática Portuguesa:


Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam
no elevador.

Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem
vividos pelas preposições da vida.

E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas
com um maravilhoso predicado nominal.

Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito
oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por leituras e filmes
ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num
lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a
se insinuar, a perguntar, a conversar.

O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno
índice. De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo,
pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador
recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente
no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou
com ela em seu aposto.

Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma
fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para
ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num
vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar.

Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e
rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam
terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu
ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um
período simples passaria entre os dois.

Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula; ele não
perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo.

É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente
oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros.

Ela totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias,
parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns
minutos nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia
tomando conta.

Estavam na posição de primeira e segunda pessoa do singular, ela era um
perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu
grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a porta abriu
repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido
tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram
gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao
ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o
verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na
história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por
todo o edifício.

O verbo auxiliar se entusiasmou e mostrou o seu adjunto adnominal. Que
loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo
absoluto.

Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele
predicativo do sujeito apontado para seus objetos. Foi chegando cada vez
mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo
claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as condições eram estas: enquanto
abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e
culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.

O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido
depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final
na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela
janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com
o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

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