19 janeiro, 2007

Monet


Estou ouvindo música.
Debussy usa as espumas do mar morrendo na areia, refluindo e fluindo.
Bach é matemático.
Mozart é o divino impessoal.
Chopin conta a sua vida mais íntima.
Schoenberg, através de seu eu, atinge o clássico eu de todo o muno.
Beethoven é a emulsão humana em tempestade procurando o divino e só o alcançando na morte.
Quanto a mim, que não peço música, só chego ao limiar da palavra nova.
Sem coragem de expô-la.
Meu vocabulário é triste e às vezes wagneriano-polifónico-paranóico.
Escrevo muito simples e muito nu.
Por isso fere.
Sou uma paisagem cinzenta e azul.
Elevo-me na fonte seca e na luz fria.
Autor: Clarice Lispector(Ucrânia, 1925 - Brasil, 1977)

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