18 setembro, 2006

A luta contra o envelhecimento

Uma nota e uma reportagem que li nos últimos dias me chamaram muito a atenção.

Numa nota pequena, soube que uma mulher com menos de 40 anos morreu após passar por uma intervenção cirúrgica estética. Essas tragédias ocorrem cada vez mais porque, entre outros motivos, o número desse tipo de cirurgia cresce assustadoramente.

Mas o que me chamou a atenção não foi esse fato em si, e sim uma situação coadjuvante: a mulher estava em tratamento de síndrome do pânico, de acordo com informações.
Creio que isso quer dizer que ela teve de superar enormes dificuldades pessoais para se submeter a essa cirurgia.

Outra reportagem que me fez pensar, principalmente se associada à primeira, foi a respeito da opinião de atrizes que não são jovens sobre a plástica como recurso também para manter as chances no mercado de trabalho.

De novo, uma frase do texto se destacou. Uma atriz contou que a primeira pergunta feita por telefone por diretores em fase de formação de elenco é: "Você está bonita?" Não é coincidência que os personagens dessas reportagens sejam todos do gênero feminino. Mas esse reinado está com os dias contados. Não é mais apenas a mulher que está submetida a um padrão rígido de modelo de corpo: a anorexia tem atingido cada vez mais os homens. Quero abordar, entretanto, outra questão hoje: a recusa da aparência da velhice.

Vivemos um absurdo. O avanço das ciências tem contribuído para o aumento da longevidade e, como resultado, a população está envelhecendo. O problema é que envelhecemos, mas não podemos mostrar nossa velhice. Aí está nossa maior contradição: queremos viver mais, sim, mas envelhecer tem sido intolerável. Nossos cabelos brancos precisam ser coloridos, nossas rugas, atenuadas, nossa flacidez, tratada e a gordura localizada, extraída. Precisamos manter energia, vigor e agilidade. Tudo isso custe o que custar, em todos os sentidos.

Quem ganha com essa idéia de vida? O mercado, claro, que vende de tudo para dissimular os sinais da degradação do corpo: cosméticos de todos os tipos, técnicas de dermatologia, nutrição especializada, cirurgias plásticas, pílulas dos mais variados tipos etc. O conceito de saúde na velhice passou a ser associado à idéia de juventude.

E o mais cruel: compramos também a idéia de que só envelhece quem quer, ou seja, só fica velho quem não investe pesadamente nesse aparato todo para aparentar jovialidade. Quem não se compromete com esse estilo está condenado ao ostracismo.

Assim, a responsabilidade -melhor dizendo, a culpa- pelo envelhecimento, pela decadência física inevitável, pelos sinais do tempo é pessoal. Que ilusão!

Enquanto vivemos com essa ilusão, construímos uma sociedade que não aceita o velho, que não se modifica para reconhecer essa fase da vida. Nosso espaço público não acolhe os velhos; ao contrário, os exclui.

No Brasil, não temos ainda o hábito de confiná-los em asilos. Aqui, eles têm sido confinados em suas próprias casas. E tem sido esse o conceito de velhice que temos transmitido às crianças e aos jovens.

Não será bom parar para pensar no que isso pode dar?

(Autora: Rosely Sayão-Psicóloga)

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